segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sequência da vida

Às vezes quero escrever, quero passar para palavras o que sinto no meu coração. Mas não consigo. É como se nem um dicionário completo tivesse as palavras certas para descrever a mistura de sentimentos que me faz quem sou.

Sinto que tudo tem uma ligação. Nada acontece apenas por acontecer. Tudo é uma cadeia de acontecimentos que começa e nunca para.
As coisas deram errado em Portugal. A minha mãe e eu tivemos de ir embora. Fomos para Londres, para casa da minha querida tia. Vivemos lá, não muito tempo, mas tempo suficiente para eu fazer da zona de Wandsworth a minha casa. Cada canto, cada rua, cada cara conhecida, cada loja, cada autocarro... Mas mesmo sendo Londres a minha nova casa, o único local do mundo onde sinto que pertenço, onde a chuva é parte de mim, onde o sol me ilumina de uma maneira diferente do que aqui, onde as horas passadas no parque congelam no tempo, mesmo sendo em Londres que sou feliz, a vida trouxe-me de volta à minha terra natal.

No aeroporto, chorei. Olhei para trás e chorei. Não queria deixar aquele lugar.
No controle de bagagem, chorei. Não queria ver as minhas coisas entrar naquele avião.
Na entrada do avião, o meu coração encheu-se de uma esperança falsa. Não queriam deixar-me passar com a minha mala de mão. Passado muito tempo, depois de muitos "talvez não tenha de ir..." passarem pela minha mente, deixaram-me finalmente passar.

Voltei. Não sabia porquê, nem para onde. Mas voltei. Por muito tempo chorei por ter voltado.

Mas neste momento não me arrependo. Porque se eu não tivesse voltado, não tinha percebido onde realmente pertenço, não tinha finalmente encontrado quem sou, não tinha visto quem são os verdadeiros amigos que nunca me abandonaram, não tinha encontrado o amor, não tinha dado valor ao que realmente tem valor.

Hoje estou sentada num sofá a olhar pela janela e a ver o mal, e o céu, e os carros na estrada, e o autocarro na paragem, e as pessoas a viver cada um a sua vida. E eu pergunto-me: Quando? Quando é que o céu que eu vejo me irá ver outra vez? Quando é que me irei despedir deste mar outra vez? Quando é que estas pessoas não me irão ver nunca mais nas suas vidas?

Eu não sei responder a estas perguntas. Ninguém sabe... Mas a vida irá encarregar-se disso. Alguns chamam-lhe destino, outros karma, outros Deus, outros energias. Não sei o que é que tu lhe chamas, mas acredito que isso me levará outra vez para casa.